terça-feira, 22 de junho de 2010

Junho - Alceu Valença

Eu sei que é junho, o doido e gris seteiro
Com seu capuz escuro e bolorento
As setas que passaram com o vento
Zunindo pela noite, no telheiro

Eu sei que é junho, esse relógio lento
Esse punhal de lesma, esse ponteiro,
Esse morcego em volta do candeeiro
E o chumbo de um velho pensamento

Eu sei que é junho, o barro dessas horas
O berro desses céus, ai, de anti-auroras
E essas cisternas, sombra, cinza, sul
E esses aquários fundos, cristalinos
Onde vão se afogar mudos meninos
Entre peixinhos de geléia azul

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998, morreu ao início da tarde de sexta-feira, 18 de Junho de 2010 na sua casa em Lanzarote, vítima de leucemia crônica, onde residia com a mulher Pilar del Rio. O escritor português tinha 87 anos e encontrava-se doente há algum tempo, tendo-se agravado o seu estado de saúde na sua última semana.
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A notícia me chega surpreendente nesta manhã de sexta-feira. Abro um jogo de copa do mundo, me vem essa catástrofe da realidade que eu acreditava suspensa até o apito final do dia 11 de julho. Teimosia da realidade, teimosia da morte.
Sinto essa morte como uma perda, pior, uma perda ali depois da celebridade, além das aparições: perco a voz do diálogo, da reflexão sobre a natureza das agonias. A literatura ficou rouca. Eu estou mais um pouco mudo. Porque aprendi com ele alguma coisa de mim, dos homens e de Deus, e já não há mais quem diga.

pedro