Tô escrevendo isso -
“Um lugar é a ordem (seja qual for) segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência”. Assim, um elemento estaria em relação a outro, “portanto excluída a possibilidade, para duas coisas, de ocuparem o mesmo lugar”, define Certeau (p. 201). Uma vez que o lugar se torna uma configuração de posições, o espaço, por sua vez, “existe quando se tomam em conta vetores de direção, quantidade de velocidade e a variável tempo”. (CERTEAU, p. 202).
As operações, portanto, é que transformam as localizações em cruzamentos e lhe dão contexto significativo. Enquanto cada lugar é estável, o espaço é ambíguo, modificado pelas transformações sucessivas, aponta Certeau, “como a palavra quando falada”. Assim, Certeau pode afirmar: “Em suma, o espaço é um lugar praticado” (p. 202).
É na análise de Merleau-Ponty que Certeau busca apoio para sua tese, indicando que o “espaço geométrico descrito por ele corresponde ao “lugar”, enquanto ao “espaço antropológico” corresponde outra espacialidade mais propícia ao espaço construído no cotidiano, e também nos relatos que incessantemente efetuam o trabalho de transformar lugares em espaços ou espaços em lugares.
Ciente dessa terminologia, Augé (1994) constrói sua proposição do lugar antropológico:
O lugar, como o definimos aqui, não é em absoluto o lugar que Certeau opõe ao espaço, como a figura geométrica ao movimento, a palavra calada à palavra falada, ou o estado ao percurso: é o lugar do sentido inscrito e simbolizado, o lugar antropológico. (ver como é, p. 76)
Augé (1994) considera que a noção corrente de espaço ligada à conquista espacial ou aos lugares “desqualificados ou pouco qualificáveis” como os espaços-lazer ou espaços-jogos o coloca em melhor condição de designar as superfícies não simbólicas do planeta. Uma vez que o termo espaço se aplicaria indiferentemente a extensão, distâncias ou grandezas temporais, como mostrado anteriormente, ele se torna eminentemente abstrato, no dizer de Augé, embora de uso sistemático e pouco diferenciado.
Por espaço aéreo, espaço judiciário e espaço publicitário são designados a parte da atmosfera que um Estado controla, o conjunto institucional e normativo utilizado por uma sociedade e uma porção de superfície ou de tempo destinado à publicidade, aponta Augé, acrescentando que o termo espaço ainda pode evocar salas de espetáculo ou de encontro, jardins, assentos de avião ou modelos de automóveis, o que indicaria tanto a sua voga quanto a abstração que o esvazia “como se os consumidores de espaço contemporâneo fossem, antes de mais nada, convidados a se contentar com palavras.” (1994, p.78).
Assim, em O sentido dos outros, Augé (1999) define o lugar antropológico como sendo “o lugar do ‘em casa’, o lugar da identidade partilhada, o lugar comum àqueles que, ao habitá-lo juntos, são identificados como tais por aqueles que nele não o habitam” (p. 134). É ainda “simultaneamente princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de inteligibilidade para quem os observa” (AUGÉ, 1994, p. 51).
Sua escala é variável, podendo ser a casa, a choupana, a aldeia ou “tantos lugares cuja análise faz sentido, porque foram investidos de sentido, e porque cada novo percurso, cada reiteração trivial, conforta-os e confirma sua necessidade” (AUGÉ, 1994, p.51).
Os lugares antropológicos são identitários, relacionais e históricos – definem possibilidades, prescrições e proibições de conteúdo espacial e social. Nascer é nascer num lugar, ser designado à residência – o lugar de nascimento é constitutivo da identidade individual; Relacional porque coexiste entre construções partilhadas de lugar; Por fim, o lugar antropológico é necessariamente histórico a partir do momento em que, conjugando identidade e relação, se define por uma estabilidade mínima, baseada não na história enquanto ciência, mas na relação com os antepassados, com os mortos e com a tradição. “O habitante do lugar antropológico não faz história, vive na história”, diz Augé (1994, p.53).
Em suma, o lugar antropológico corresponde à idéia que os habitantes têm da sua “relação com o território, com seus próximos e com os outros”, definindo assim um contexto constitutivo partilhado entre define usos, valores e comportamentos. Sua formulação por Marc Augé (1994, 1999) o aproxima dos espaços de Certeau (ver o ano certo) no que podem ter de prática, de uso e de escrita do lugar.
Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não lugar (p. 73)
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e tenho que continuar com o texto.
Mas paro pra observações fúteis:
1 - sobre o deputado que devolveu o dinheiro: minha gente, se ele devolve o dinheiro, a bufunfa vai pra conta do tesouro e se reintegra ao orçamento no ano que vem. Então, esse dinheiro ainda pode virar metrô fantasma ou a Usina de Belo Monte.
O que eu espero é que, sem viajar, sem assessores, sem auxílio fardão, ele ainda consiga ser producente e fazer mais que escolher feriados insanos ou nome de escolas. Aguardo.
2 - Se o quebra-pau de London London fosse na cidade maravilhosa, hein?
3 - Saudades de Jorge Amado são sentidas e merecidas, mas o que é o fardão de Roberto Marinho na ABL?
4 - Quem quiser viver muito não ande em Fazenda Grande do Retiro domingo de noite. Avisado.
5 - QUEM É CAF?