quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Rascunho

Mas em algum lugar perdido,
Entre memórias e delírios

O futuro que poderia ter sido está escrito
Lido por ninguém jamais.

O conjunto de instantes
Que, engrenado na cadeia mais improvável,
Teria nos levado a esse instante 

Agora inevitável.

E afinal teriam sido
ajustes tão pequenos

Uma cortina, 
Uma buzina, 
Acabou o leite, olha aqui, acabou não.

Um passo ao lado
no jardim do impossível
Cresceu a flor de esperar você.






terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Bd. Sébastopol

No Boulevard
A população apressada
Desfila em ondas
Marcando o ritmo do sinal vermelho

O alto falante confirma
Réaumur-Sébastopol
E repete

É uma orientação cardeal

Quase como
Na manhã da feira

Primeiro estão as barracas
Depois os temperos
A oeste carnes
Ao sul, importados e frituras

E o negociar semi frenético de víveres e utilidades
Se irmana com o perguntar e saber
do estado geral das coisas

Enquanto a caixa de som no alto do poste
Anuncia com renovada alegria
Promoção no Armarinho Jusansá

domingo, 8 de dezembro de 2019

21 de janeiro

Quem nunca ouviu o som do cascalho
Esperando o ônibus no Pancadão

Cinco da tarde
A festa acabou

Quem nunca sentiu
A vida ficando na beira da estrada

E o Novo Horizonte rumando de volta pra solidão

Quem nunca fez alvorada
Agarrado a um último fio de alegria

Attention à la marche en descendant du train
E a festa acabou

E então teve que entrar no avião
Sem nunca antes

Só aí descobriu
Desprotegido
Sem escola ou ensaio


Que o coração se parte em mil pedaços

Como se qualquer hora pudesse ser
Vinte e um de janeiro,
Cinco da tarde.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

La vie en rose

Não importa se Paris
Ou Piranga

Toda pessoa sonha,
Por mais que oculte,
Até mesmo de si,

Toda pessoa sonha
Um dia
Chegar no Bar de Guto
E aquela pessoa
Puxar uma cadeira
Senta aqui

E uma coxinha depois
Num movimento natural
Essa pessoa chegar mais pra cá

Frio, né?
Sei lá, nem vento
Na verdade o calor até esquenta

E nessa hora
Até uma pisadinha de paredão
Tem som de La vie en rose

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Tour Eiffel

A torre Eiffel
É mesmo que ver
A antena de toin café
Só que sem o cruzeiro

Quando a televisão chuvisca
Todo mundo grita
Queta Eiffel
Bota bombril

Só que é tão grandona
Que ninguém tem parabólica

E fica num descampado
Dejunto do rio

O povo faz fila pra subir
E merenda junto dela

E todo mundo tem uma foto
Pra dizer que já foi na foto

A antena, moço
É tão grande
Que botaram pisca pisca uma vez
E nunca deu certo tirar

De lá de cima dá pra ver todas
As casas
E quem já tirou a roupa do varal.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

O Arco do Triunfo

O Arco do Triunfo
é como um portão de fazenda,
Manel,
Que dava pra passar uns cinco carros de boi
um montado no outro pra cima

Mas passando dele não tem nada

pra subir tem que passar embaixo da rua
essa rua que tem rodeando ele
e umas dez esquinas tudo saindo nessa rua
largona

largona que passa uns dez carros de vez
um do lado do outro

e das esquinas vai saindo carro
e os carros vão entrando nas ruas

é uma loucura, precisa você ver

Mas bonito é de lá de cimão, Deus benza.

É bonito mas a escada é toda tortinha
e tem pombo
É bonito mas é assim

Eu se fosse botar um portãozão daquele tamanho
Tinha que ter uma fazenda com a casa bem bonitona
Eu pra mim só fazia se fosse assim.